IR. EUSTELLA MUZZIN

IR. EUSTELLA MUZZIN

30/08/1896 + 17/03/1975 -------------------------

Biografia

Ir. Eustella entrou na Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, no tempo da 2ª Grande Guerra Mundial. Desde aquela época, demonstrava sua caridade. Foi prisioneira de guerra com as Irmãs e no campo de concentração, ia providenciar a parca alimentação que lhes era oferecida. Veio para o Brasil, alguns meses após a Primeira Profissão e, uma vez deixada a sua Pátria, para lá nunca mais voltou, num gesto de heroísmo total, de renúncia e doação completa, deixando as alegrias terrenas para gozar de outras, junto a Deus, onde hoje repousa. Em 1922 Ir. Eustella foi enviada para Botucatu, em missão, na Santa Casa. Sua presença foi realmente providencial e abençoada. Desde que as Irmãs assumiram a Santa Casa suportaram sofrimentos incríveis desde a entrada, pois foram brutalmente repelidas.

 

Chegando Ir. Eustella e tomou conhecimento da triste situação das coirmãs. Além de todo sofrimento, não possuíam uma capela, para junto de Jesus, desafogarem as suas preocupações. Ela começou a resolver a situação. Com a Superiora, Ir. Efrém Bottini encontrou um modo de entrar em contato pessoal com o exímio Barão de Amaral, cuja fama era a de ser benfeitor de Obras Pias. Dele conseguiu o estritamente necessário para o culto divino. O depois as devidas licenças das autoridades eclesiásticas para colocar Jesus na capela com elas. Entretanto não havia lugar físico adequado para preparar uma capela e nela colocar Aquele a quem tanto desejavam e aspiravam.

Ir. Eustella cedeu o seu quarto para o Divino Hóspede e num gesto de amor, e generosidade, improvisou o seu leito para o descanso num apertado quarto escuro quase sem ventilação.

 

Os administradores desconheciam a façanha de Ir. Eustella e as densas trevas ainda continuaram. Porém, Jesus estava ali para confortá-las e encorajá-las, graças a intervenção de Ir. Eustella. Conseguiu também que os Padres Lazaristas celebrassem lá a Santa Missa.

 

Ela ficou muito abalada com as contínuas violências e tanta amargura, além do incômodo e o pouco repouso. Tudo isso abalou muito a sua saúde. Ela que abrira a brecha no ânimo de quem presidia o Corpo Administrativo do local, ainda enfrentava dificuldades para influenciar essas pessoas para o bem. Ir Eustella, mesmo abatida e sofrendo, continuou generosamente a sua missão, esforçando-se para diminuir a preocupação de Madre Melânia que ficou impressionada com o estado de saúde da Irmã.

Posteriormente, devido a situação alarmante de Ir. Eustella foi chamada a Botucatu e a encaminhou para o Hospital Humberto I para efetuar o tratamento necessário e não mais retornou a sua Comunidade.

 

Trabalhou como enfermeira, até 1945, em vários Hospitais: Araraquara/SP, Hospital Matarazzo em, São Paulo/SP, no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba/PR, nos anos de 1937 a 39 sendo também Superiora da Comunidade, em Pirajuí/SP onde também foi Superiora, Hospital de Poços de Caldas/MG, na Casa de Saúde Campinas em Campinas/SP e na Santa Casa de Botucatu/SP.

 

Foi sempre religiosa exemplar e testemunho vivo de uma vida consagrada inteiramente ao serviço de Deus e da Igreja. Para todos, tinha uma palavra amiga e de encorajamento. Criatura silenciosa, fazia o apostolado do silêncio, traduzindo seu grande amor a Deus, à Igreja e ao Instituto. Sua figura de asceta testemunhava que se pode levar uma vida de sacrifício e imolação, de doação completa a Deus Criador. Sua vida de penitência impressionava muito.

 

Em 1946, foi transferida para o Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Marília/SP, exercendo o ofício de sacristã, com zelo incansável pela “Casa de Deus”. Todos admiravam a limpeza e ordem que reinava na Capela, nos vasos sagrados, paramentos, piso, bancos, etc. Nas horas vagas, lá estava, diante do sacrário, como uma vela que se apaga aos poucos e se consume por Cristo. Além disso, era enfermeira e, com muita dedicação, cuidava das Irmãs e das alunas internas; também auxiliava a Ecônoma, no serviço de bancos.

 

Em 1974, sentindo suas forças abaladas, solicitou transferência para a casa de repouso. Ali passou seus últimos dias. Após fazer uma ‘Via Crucis’, na Quaresma, sentiu-se mal, recolheu-se ao leito e uma hemorragia interna anunciou terem chegados os seus últimos momentos. Foi levada para a Santa Casa, submetida a uma cirurgia, mas não a suportou e confortada com os santos sacramentos, assistida por Sacerdotes e Irmãs, deixou esta vida por outra melhor, aos 79 anos de idade e 57 de vida religiosa. A cidade inteira chorou sua perda, principalmente aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-la. A pedido do Sr. Bispo Diocesano, a Missa de corpo presente foi celebrada na Capela do Colégio, pela qual, por mais de vinte anos, Ir. Eustella zelou com tanto carinho e dedicação. Após a Missa, com grande acompanhamento, foi levada ao cemitério municipal.

 

O Jornal “Correio de Marília” publicou, no dia 20 de maio de 1975, um artigo com o seguinte título: “Mulher ou Santa”? Mulher em termos humanos; Santa em atos, gestos, conduta, comportamento, vocação, idealismo religioso. Ir. Eustella foi, mais do que mulher, uma autêntica santa. Que Deus, em sua infinita bondade, a tenha em seu Reino.

 

Depoimentos

 

Ir. Beatriz Maria de Hollanda - Tive a graça de conhecer Ir. Eustella, no Colégio de Marília, e com ela conviver durante dezessete anos. Era eu neo-professa, quando lá cheguei. Posso afirmar que Ir. Eustella foi uma Irmã extraordinária, dentro do ordinário da vida. Fiquei conhecendo um pouco de sua vida, pois, às vezes, em conversa durante o recreio da comunidade, falava do seu tempo de postulado nos conventos da Itália. Era o tempo do Nazismo e das perseguições de Adolph Hitler, na Itália. Contou, que ela e mais duas Irmãs da comunidade, num convento da Áustria cidade vizinha, foram arrastadas num campo de concentração, por quatro meses. Como eram italianas e moravam em país, que pertencia à Alemanha, tiveram de se submeter à tirania satânica do Nazismo. Foram colocadas num trem de carga que transportava animais, sem saber para onde iam e por longos dias de viagem. O trem parou num mato e os passageiros seguiram a pé até o campo de concentração. Dizia ela que via muitas atrocidades no campo de concentração. Os alemães matavam a sangre frio os que não se submetiam às mínimas coisas, por vezes até ridículas. Sofreram fome, comeram até ratos, passaram sede, frio, sono, pois tinham que ficar atentas para qualquer surpresa e sempre vestidas. Fizeram a experiência do abandono e da confiança em “Deus só”. Esses quatro meses pareciam uma eternidade, até que, finalmente, chegou o dia da volta e seguiram para a casa Geral, em Roma, sujas, pálidas, desfiguradas, irreconhecíveis. Foram acolhidas com muito carinho pelas Irmãs da comunidade. Ir. Eustella recebeu o Santo Hábito, fez o Noviciado e a Primeira Profissão e, em seguida, veio para o Brasil, levando sua vida religiosa com muita seriedade e rigor. Usava o cilício, a disciplina e fazia jejum, especialmente, nas sextas-feiras, na Quaresma e na Semana Santa. Muito caridosa e prestativa, amante dos pobres. Seu zelo pela Capela era extraordinário. Era pessoa de muita oração. Um dia ela me disse: “Como gostaria de ir para o céu!...’Tinha sede de Deus”.

 

Ir. Lélia Machert - Morei com Ir. Eutella, em Marília/SP. Era Sacristã e responsável pela farmácia. Acolhia a todos com caridade, prontidão; enérgica, mas, ao mesmo tempo compreensiva.; metódica, com alguns traços da neurose de guerra; fervorosa, rezava muito, fazia sacrifícios e usava instrumentos de penitência, conforme tivemos ocasião de constatar, várias vezes; sua vida era entre a capela, a farmácia e oração, permanecendo longas horas na capela; expressava seu amor ao Coração de Jesus com o exemplo de sua vida.