IR. BERNARDETE LOCORE

IR. BERNARDETE LOCORE

22/06/1913 + 16/10/2002 -------------------------

Biografia

Luigia, conheceu, desde criança, a dor, a perda e a solidão, como testemunha do terremoto e da destruição de todos os bens da família. O pai já havia falecido na guerra. Contava que, na ocasião do terremoto, encontrava-se agarrada à mãe, no único canto da casa que fora preservado. A Saúde Pública fez a vistoria da casa, constatou que não poderiam permanecer no local e levou todas as crianças, que se encontravam na mesma situação da pequena Luigia, para um Orfanato que, coincidentemente, era dirigido pelas Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. A mãe a visitava diariamente e, num determinado dia, saindo do local, após a visita, foi atropelada,  vindo a falecer.

Luigia ficou sozinha, restando de sua família apenas um irmão, que estudava medicina e veio a falecer de tuberculose. Guardava a doce lembrança de ter, nos seus braços, esse irmão que, antes de morrer, disse: “Veja como ela é linda!  Você está vendo? Como ela é linda! “ E, sorrindo, expirou.  Era, certamente, a presença de Maria Santíssima.

Embora sem família, era uma jovem tranquila. Recitava o terço e o fazia com muita devoção. Talvez, evocava a lembrança do irmão que, antes de falecer, a convidava a olhar para a linda Senhora.

 Sentiu-se chamada para a vida Religiosa e, na idade de 21 anos, ingressou no Instituto. Após os anos de formação, iniciou suas atividades na área de saúde, nos seguintes locais:

1937, estudante, na Universidade de Bari; 1940, Enfermeira no Hospital Militar da Albânia; 1941, Hospital Sanatório de Bari, 1943, Hospital Sanatório de Lesse; 1946, Hospital Civil de Condela.

 

Em 1947, ainda Juniora, veio para o Brasil e continuou a mesma profissão nos Hospitais: Matarazzo, em São Paulo-SP; 1957, Ribeirão Preto-SP; 1958, retornou ao Hospital Matarazzo; e, em 1964, em Poços de Caldas-MG, como enfermeira noturna, até o ano de 1995, quando teve um enfarto e foi transferida para Águas da Prata, a fim de tratar da saúde. Nos 32 anos que atuou em Poços de Caldas, além de sua comunidade religiosa, pôde, de uma certa forma, reconstruir um prolongamento de sua família biológica, graças ao amor, respeito e carinho que recebia dos médicos, funcionários e pacientes. Era o ‘anjo da noite’.  Com o conforto espiritual, levava aos doentes o famoso chá com bolachas.

Na comunidade religiosa foi exemplo de amor, alegria e fervor. Sua grande paixão: Jesus e a Virgem Maria.

 

Dava muito valor aos sacramentos e foi agraciada com a Unção dos Enfermos pouco antes de sua partida. Encontrar-se com o Senhor era sua maior alegria. Preparava-se, cuidadosamente, para esse momento. Seu entusiasmo e fervor edificava e contagiava as coirmãs e os leigos. Demonstrava um grande amor e fidelidade ao Instituto e respeitava as superioras. Vibrava com a expansão missionária do Instituto e dizia: “Gostaria de ser mais jovem para ser novamente enviada, e começar tudo de novo”.

Sofreu muito ao deixar Poços de Caldas; porém, ambientou-se bem em Águas da Prata, onde encontrou abrigo, acolhida fraterna e carinho; e dizia desejar morrer nessa comunidade. Ultimamente falava muito da morte; e, no final de cada dia, dizia: “ um dia mais perto da morte”. Pouco antes da morte repetiu: “Bendita morte! Única realidade da qual ninguém escapará!”

Segundo o depoimento de sua comunidade, Ir. Bernadete morreu, como sempre pedia ao Senhor: sem dar trabalho às Irmãs. Num diálogo com uma das Irmãs, relatou toda a sua vida permeada de sofrimentos; e declarou ter encontrado forças em Cristo; para Ele quis dedicar sua vida e missão, e acrescentou: “Só para ele quero viver até quando quiser me levar; já não posso fazer mais nada, somente o crochê, mas até isso me custa, pois não consigo fazer como fazia antes”.

Num dos encontros comunitários, teve sua participação ativa e, na hora do compromisso, colocou o incenso no turíbulo e disse: “Senhor, dá-me muita paciência e humildade, porque, ultimamente, tenho feito minha comunidade sofrer com minhas teimosias”.

Sua vida de caridade era sensível e, mesmo em alguns momentos de conflito, procurava desculpar a pessoa. Quando rezava, seu coração era universal.

Encontramos num dos seus apontamentos: “Gesù mio, Signor mio, mio tutto...Sono felicíssima di averti incontrato. Ormai il tempo per me è finito. Tu mi ai permesso di entrare nell´eternità. Io non voglio allontanarmi nè un instante da te e dalla nostra Santissima Madre, Maria. Conferma questa grazia e aiutami a essere fedele. Stando con te sempre presente, ti amerò e ti servirò il meglio possíbile nei Fratelli,  che  incontro nel mio cammino”.  

Ir. Bernadete faleceu em Águas da Prata, aos 89 anos de idade e 65 de vida religiosa. Seu mérito foi reconhecido em várias ocasiões. A Câmara Municipal de Poços de Caldas, através de uma pesquisa feita com a população, indicou-a  como merecedora do prêmio, que lhe concedeu o título de “Cidadã Poçoscaldense”. Em outra pesquisa intitulada “Personagens do século – de ontem e de hoje”, Ir. Bernadete foi indicada como a “Mulher que fez a História de Poços de Caldas Nas duas ocasiões, durante o discurso, as autoridades exaltaram as virtudes da Ir. Bernadete, ilustrando com exemplos, os seus dons e belas qualidades.

Depoimentos

Ir. Leônia Cavassin- Não morei com Ir. Bernadete. Conheci quando trabalhava como enfermeira noturna. Possuía o dom de ajudar os pobres e abandonados. Era alegre, caridosa, prestativa, amiga, organizada e serviçal. Considerava as Irmãs como se fossem de sua família, perguntava pelos familiares e, por ocasião da morte de alguns parentes, associava-se à sua dor. Amava o Coração de Jesus e dele falava para todos que encontrava. Demonstrava muito interesse pelas vocações”.

Ir. Rosana Cristina Zan- O que mais admirava na Ir. Bernadete era sua alegria de ser consagrada e seu amor a Deus, ao Instituto e ao ser humano. Caráter forte e marcante. Já bastante idosa, continuava numa vida de verdadeira missionária”.

Ir. Jucélia Melo - Virtudes que mais a destacavam: Alegria, acolhida, amor à vida, ao Instituto, aos pobres, às coirmãs, doação, responsabilidade, realização pessoal e profissional.  Bom caráter e muito querida por todos. Sempre que me encontrava, pegava-me pela mão, dava-me bons conselhos e dizia: ‘Brava figlia ... Nostro Signore ti a scelta.

Ir. Lourdes Baptista Ferreira - Quando Ir. Bernadete veio para Águas da Prata fiz de tudo para ela se ambientar na nova casa, pois ela queria trabalhar ainda, no Hospital de Poços de Caldas. Dizia ter força e saúde para enfrentar qualquer trabalho. Queria também continuar o trabalho de dispensar pão para as famíliapobres. Passava o dia em seu quarto, fazendo crochê para vender e ser útil para a comunidade. Toda entregue a Deus, rezava por todos, principalmente pelas Irmãs necessitadas.

Ir. Anacleta Biss - Era muito pontual aos atos comuns embora com muita dificuldade de locomoção. O seu pizar cadenciado com sua bengalinha anunciava a sua chegada sempre antecipada. Quando não estava na capela estava em seu quarto confeccionando mantinhas de lã para doar aos pobres de Poços de Caldas. Era muito afetuosa e respeitava todas as Irmãs. O único dia que perdeu a Santa Missa foi o dia de sua morte. Colocada na maca disse ao médico: "cubra minha cabeça" e o médico rindo respondeu: "vai parecer um fantasma" e na ambulância em caminho ao hospital disse: "Eu sempre desejei a morte, mas não pensava que ela fosse tão rápida assim". Na comunidade foi sempre muito querida. Amava a todas e por todas era amada.