IR. INNOCENTE TERZAGHI
24/07/1883 + 02/05/1937Biografia
Ir. Innocente nasceu em 24 de julho de 1883, em Veniano, Província de Como, enchendo de alegria o coração dos pais, que tanto suspiravam pelo nascimento de uma menina, que viesse alegrá-los com suas graças femininas e sorriso inocente.
O futuro lírio que devia perfumar o jardim do Sagrado Coração, recebia na fonte batismal o nome de ANNA, que quer dizer graça; e sua vida foi, realmente, um tesouro de graças. A pequena, de boa índole e afetuosa, tornou-se o encanto de seus amados pais, a alegria de sua pequena família que se sentia orgulhosa de tão grande tesouro e lhe previa um futuro feliz.
Nascida e crescida entre católicos praticantes, não é de admirar que fosse nutrida desde o berço de educação salutar e eficaz, que mais tarde devia fazer dela uma fervorosa missionária, uma verdadeira Zeladora do Sagrado Coração de Jesus.
A infância e a adolescência de Anna transcorreram sob a amorosa e terna vigilância dos pais, na mais perfeita paz e tranquilidade; mas, chegada à idade na qual a escolha do estado preocupa pais e filhos, Anna, que há muito tempo alimentava no coração o desejo de abraçar a vida religiosa, sentiu-se, imersa pela luta, entre a natureza e a graça. Mas não perdeu a coragem. Redobrou suas orações à Mãe celeste, para que a ajudasse no duro discernimento e, com muita calma, esperou o momento em que a graça a moveu mais fortemente para dar o derradeiro passo. Papai e mamãe, convictos que aquela era verdadeiramente a vocação da amada filha, não obstante a dor do coração, deram-lhe a devida permissão.
Superado, felizmente, o primeiro obstáculo, Anna, fortificava-se com a oração, para poder superar com generosidade o segundo, do qual já sentia no coração toda a amargura!...O momento de deixar a casa paterna com a resolução de não mais retornar que é bem duro e dilacerante para o coração de uma filha. Anna superou-o com o entusiasmo dos santos e, nos últimos meses de 1904, nós a encontramos, radiante de alegria, passeando sob os pórticos da Casa Mãe, em Piacenza, entre um grupo de jovens postulantes, relembrando suas lutas e vitórias.
Passada a primeira provação, no fervor e na obediência cega, Anna, em março de 1905, vestiu o hábito de Missionária Zeladora do Sagrado Coração de Jesus e renunciava ao seu nome de Batismo, para tomar o de Innocente, em homenagem a seu amado pai.
Transcorreu como um relâmpago o ano do Noviciado; chegou o dia da santa Profissão: Ir. Innocente ligou-se a Jesus com tríplice voto, jurando-lhe amorosa e perpétua fidelidade.
A Missionária estava pronta a alçar o voo, para onde a obediência a mandasse. O Esposo Jesus a esperava além-mar, e ela, alegremente, o seguiu, logo depois das místicas núpcias.
E eis Ir. Innocente, transposto o imenso Oceano, na grande cidade de São Paulo/SP, colocando em atividade os dons de sua mente e do seu coração para o bem de todos, dos quais seu Divino Esposo, com o grito “Sitio” (tenho sede) pronunciado no alto da Cruz, mostrara-se misticamente sedento.
O seu primeiro campo de missão foi o Orfanato, feminino da Vila Prudente. De quantos cuidados não terá rodeado aquelas crianças inocentes, privadas dos afetos mais legítimos e santos; por certo não terá deixado passar a ocasião de fazer cair sobre aqueles corações a chama da fé, que ameniza qualquer dor e torna leve toda a infelicidade.
Mais tarde, vemo-la, de hábito branco, encaminhar-se para o longo corredor de um hospital, parando em cada leito e confortando o sofrimento daqueles doentes, com palavras impregnadas de edificante caridade. A assistência aos doentes foi sempre a ocupação predileta do seu coração grande, terno e compassivo.
Em dezembro de 1909 e precisamente na vigília do Santo Natal, Ir. Innocente deixava São Paulo para ir a Curitiba/PR, bairro de Santa Felicidade, onde lhe foi confiada numerosa juventude, para instruir e educar. À imitação do Divino Mestre, alegrava-se ao ver-se rodeada de tantas crianças. Também, nesta nova missão, não desmentiu o seu espírito de verdadeira missionária. De Santa Felicidade, nossa cara irmã, dócil como uma bolinha, partiu para Umbará, outra colônia italiana, distante de Curitiba alguns quilômetros e, de lá, para Santa Catarina, nas cidades de Cresciuma, onde foi Superiora. As Irmãs deixando Cresciuma partiram para Urussanga em 1921. Em Nova Veneza foi designada, como Superiora, Ir. Innocente, em 1922, por breve tempo, porque as Irmãs deixaram essa missão e retornaram para Urussanga, ficando Ir. Innocente até setembro de 1922, onde permaneceu durante 18 anos trabalhando proficuamente com a juventude.
Deixando essa missão pela segunda vez, viajou para Curitiba, para dirigir a Escola Paroquial, ensinar catecismo; como Superiora orientou a Comunidade e dirigiu a Escola Paroquial, no Bairro Água Verde. Em janeiro de 1926, dirigiu-se para Santa Felicidade, em 31 de dezembro de 1925 e em janeiro de 1928 prestou sua colaboração no Externato São José, em Bauru/SP, atualmente Colégio São José de onde prestou, em 28 de setembro, seus serviços na Santa Casa de Misericórdia, onde as Irmãs atuavam há apenas dois meses.
Ir. Innocente novamente retornou para o Externato em 1930 e em 1932, voltou para Santa Casa. Em 29 de novembro de 1935, foi integrada à Comunidade do Hospital Humberto I, enviada por Madre Catarina Ferrari.
Em meio aos seus constantes afazeres na missão, demonstrou o que Madre Clélia desejou de toda Apóstola ser Apóstola como os Apóstolos. A todos cativava com sua bondade e sua humildade era profunda. Para ela a oração era indispensável e estava sempre pronta para servir. Era caridosa, simples, alegre, delicada e bondosa.
As várias transferências denotam realmente um coração disponível e acolhedor da Vontade de Deus. Ir. Innocente passava dos Hospitais às grandes salas de aula; da humanidade sofredora às crianças vivas e despreocupadas; dum campo de missão a outro, diametralmente oposto, com a mesma calma e exemplar alegria. Poder-se-ia julgá-la fria, insensível, de coração apático... Engano! O que a tornava dócil era a persuasão de que, tanto numa missão como na outra, teria podido ganhar almas para seu Jesus e assim satisfazer a sede mística do seu Esposo Divino, à cabeceira do doente, com sorriso, com prestação de serviços, com palavras edificantes, conselhos prudentes, enfim, com paciência imperturbável; na escola, com doçura materna, com palavra fácil e convicta, fazendo-se pequena com os pequenos, acessível tanto aos ricos quanto aos pobres, tanto aos favorecidos da sorte quanto aos excluídos.
Onde, porém, demonstrou seu grande espírito de piedosa e incansável enfermeira e verdadeira Zeladora do Coração amorosíssimo de Jesus, foi na Santa Casa de Misericórdia de Bauru/SP, última etapa de sua operosa vida.
Do Externato São José, portanto, passou para a Santa Casa de Misericórdia, prodigalizando cuidados aos doentes, com solicitude e afabilidade. Comovente era vê-la preparar os doentes para o definitivo passo. Assistia-os, naquele extremo momento, sugerindo-lhes jaculatórias, aproximando o Crucifixo dos seus lábios e permanecendo junto deles até o último sinal de vida.
Em 1935 a incansável missionária começou a sentir-se mal. Pensava–se que fosse problema cardíaco; ignorava a pobrezinha que a morte lhe estava abrindo o caminho para o fim. Um câncer obrigou-a a submeter-se a uma intervenção cirúrgica, no dia 2 de dezembro de 1935. Apenas recuperada desse mal, retornou ao campo de missão. No entanto, o mal se agravava e, contra sua vontade, foi obrigada ao completo repouso.
Era desejo da Madre Provincial que ela terminasse seus últimos dias em São Paulo, porém, no Coração de Jesus prevaleceu o desejo da Irmã, que pedia para deixá-la morrer no campo da sua última missão. De fato, pelo agravamento da doença foi impossível sua viagem. Sentindo que a morte se aproximava, oferecia a cada momento as crises de seu sofrimento em expiação dos seus pecados, desejosa, como dizia, de fazer o purgatório nesta última fase de sua vida. Oferecia-as, também, pela conversão dos pecadores e pelo triunfo do Reino de Cristo no mundo.
No dia 2 de maio, confortada pelos santos sacramentos e assistida pelas orações da comunidade presente, Ir. Innocente, com um olhar de afetuosa despedida, inclinou a cabeça e, sorrindo, espirou. Seu semblante tomou expressão angelical. Dir-se-ia que passou do leito de dores, ao gozo dos bem-aventurados. Foi bela na morte quanto o foi em vida. Contava 54 anos de idade e 31 de vida religiosa.
Foi velada na Capela da Santa Casa, onde foi celebrada a Santa Missa, com a presença das comunidades de Bauru, Cafelândia, Pirajuí, Jaú e de muitos admiradores.
Bauru, em peso, acompanhou, a pé, o esquife, até sua última morada.
Feliz Irmã Innocente, que soube transformar em tesouros os sofrimentos que a levaram com tanta rapidez ao túmulo, deixando, no coração de todos e especialmente de quem a assistiu e visitou no leito da dor, uma suave impressão e um eficaz e duradouro testemunho.
Ir. Innocente, da pátria celeste, volta teu olhar para a Congregação que te recebeu, te formou para a vida religiosa, que te proporcionou os meios para tua santificação; desperta no coração de muitos jovens o desejo da missão; intercede de modo especial, pela vocação das futuras Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus.
Madre Catarina Ferrari, Superiora Provincial comunicou: “À meia-noite do dia 2 de maio, Irmã Innocente Tersaghi faleceu. Sua morte foi a de uma verdadeira Religiosa. Sofreu não apenas com resignação, mas com alegria, agradecendo a Jesus, seu Esposo. Não queria calmantes, por amor a Jesus e para enriquecer sua alma de merecimentos”.