IR. TARCILLA ARDITO
02/04/1874 + 16/10/1928Biografia
Ir. Tarsilla foi Superiora na Santa Casa de Casa Branca, substituindo Ir. Adriana Filipe. Desempenhou sua missão com muita habilidade; demonstrou capacidade administrativa, motivo pelo qual foi indicada, em 1915, para a direção da Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, como Superiora da nova missão, sendo eleita em julho de 1915.
Assumiu a Comunidade Religiosa constituída pelas Irmãs: Ir.Efrém Bottini, Ir. Teodolinda Tagliapietra, Ir. Aloisia Orsini, Ir. Natália Bonato e Ir. Catarina Carlessi. Ingressaram na santa Casa de Araraquara no dia 1º de agosto de 1915. Ir. Tarsila permaneceu no cargo até 1918.
Uma pesada cruz esperava a Comunidade naquele vasto campo de missão. “Quem segue Jesus Cristo prepara-se para o sofrimento”, diz a imitação de Cristo. Foi o que aconteceu com estas nossas Irmãs. Felizmente, o bem sempre vence com árduas e constantes orações ao Senhor. O sofrimento, com certeza, traz seus frutos. Deus coloca à prova, mas sustenta até o fim. Sofreram privações de toda sorte, mas atendiam serena e diligentemente aos seus deveres. Uns plantam e outros colhem. As Irmãs souberam sofrer e o Senhor as recompensou.
A colheita foi farta meses após o início de seu espinhoso trabalho. Tudo era medido pobremente e a desconfiança não as abateu; antes a oprimente vigilância, agora, a mais ampla liberdade; à desconfiança veio uma ilimitada confiança no emprego do tempo.
O mais importante para o coração das Missionárias, com certeza, foi a conversão da pessoa que, consciente ou inconscientemente, havia submetido às Irmãs a uma dolorosíssima provação, vencida por suas virtudes. Quem as oprimia tornou-se admirador generoso, benfeitor e um poderoso protetor delas.
Ir. Tarsilla foi de admirável amabilidade e de atitudes que conquistavam os corações. Graças a ela que se deixou moldar pelo Divino Artista, resplandeceu o sol em todo ambiente; tudo era luz e transparência. O ambiente tranquilo e a constante melhora no andamento da casa eram percebidos por todos. Ir. Tarsilla foi então surpreendentemente transferida para o Hospital Humberto I. Não obstante as oposições de todos, Ir. Tarsilla, sempre obediente, foi imediatamente para o seu novo destino. Ficou em seu lugar Ir. Efrém Bottini. Em 19 de março de 1918, Ir. Severina Rigoldi acompanhou a Ir. Gregória Cristofalis, aconselhada a retornar imediatamente a Itália; era acometida de doença pulmonar, a tuberculose. Sua função no Hospital Humberto I, era a assistência noturna. Para substituí-la foi enviada em maio, Ir. Tarsilla Ardito, Superiora da Comunidade na Santa Casa de Araraquara. “Prossegue generosa, ó amada, na sua viagem; durante o caminho que deves percorrer nesta terra, não deves encontrar paradas risonhas, passeios amenos, fontes restauradoras...; ladeada por densos espinheiros, deves, ao percorrê-los, levar, ora de um lado, ora de outro, agudas picadas que te impelirão a acelerar o passo, fixo o olhar no oásis eterno, ao qual, indubitavelmente, a tua espinhosa via conduz! ”.
Ir. Tarsilla, com seu jeito especial, com muita calma e naturalidade conquistou rapidamente a amizade e confiança das Irmãs e a respeitosa simpatia das pessoas da Administração e do Corpo Médico. Em 23 de setembro do mesmo ano, o senhor De Vivo, ecônomo no Hospital Humberto I, escreveu à Provincial, Madre Assunta Bellini, tecendo um belíssimo elogio a Ir. Tarsila, dizendo: “O seu espírito de sacrifício e rara bondade de ânimo deviam refulgir mais ainda na época em que a gripe espanhola dizimava entre as diversas cidades do Brasil, também a de São Paulo. Não descuidando a assistência aos doentes do Hospital Humberto I, Ir. Tarsilla encontrou maneira de atender igualmente as inúmeras pessoas do Lazareto que a Administração havia improvisado na Rua Itapetininga [...] a pouca distância do Hospital do Braz”.
Ir. Tarsilla, incansavelmente dividia o seu tempo cuidando dos doentes nos dois locais: Hospital Humberto I e o Lazareto, animando as Irmãs ao sacrifício, naquele período terrível de provação, chegando ao heroísmo. A curta distância entre os dois locais favorecia Irmã Tarsilla visitar a Ir. Francesca Cancellieri que fora atacada de forte gripe espanhola que após alguns dias acamada veio a falecer em seus braços.
O flagelo da epidemia espanhola durou cerca de três meses, quando, aos poucos, tudo ia se normalizando. Em 1º de maio de 1919, terminando a guerra Européia, outras seis Irmãs chegaram da Itália podendo reforçar o desfalque e Ir.Tarsilla retornou imediatamente à Santa Casa de Araraquara, continuando a sua função de Superiora, onde foi muito bem recebida por todos. Sua personalidade agradável, simpática, cativou a todos ganhando a sua estima. Afável, prestimosa, estava sempre pronta a sacrificar-se para aliviar os outros. Diziam que ela era o ideal da verdadeira caridade. Nela também a caridade foi a pedra preciosa que muito brilhou no Instituto, segundo Madre Clélia. Depois foi transferida para São João da Boa Vista, onde permaneceu de
“Doentes, enfermeiros, médicos, administradores e Irmãs assistiram a sua partida, deixando no coração de todos a aflição profunda e indefinida dor! Oh! Quem haveria de dizer naquela hora de comum tristeza, que dois anos após, a cara Ir.Tarsilla teria retornado para não mais voltar?”.
Com insistência, os responsáveis pela Casa de Saúde de Campinas, denominada de “Circulo Italiani Uniti” solicitava de Madre Melânia a presença das Irmãs para cuidar dos doentes. Depois de algum tempo de acertos e espera, Madre Melânia enviou seis Irmãs, tendo como superiora Irmã Tarsilla Ardito. Madre Melânia em companhia da Superiora do Hospital Humberto I, Ir. Catarina Ferrari fizeram uma previa visita a Casa de Saúde. Ficaram satisfeitas com o local, porém, pediram adaptações físicas para favorecer à vida religiosa da Comunidade. Assumiram a missão em 1º de janeiro de 1927, com coragem e sob a orientação de Ir. Tarsilla, as Irmãs superaram os obstáculos e puderam fazer Jesus conhecido também ali. A paciência era exercitada até ao heroísmo e reforçada pelas orações e sacrifícios das Irmãs que iam se consumindo em silêncio. Finalmente as Irmãs conquistaram a estima e o respeito de todos os funcionários, que inicialmente se mostraram resistentes à presença delas. A
ação das Irmãs começava a recuperar a aprovação de todos, ainda antes de concluir o ano de 1927.
Os sofrimentos, entretanto, foram influenciando no estado de saúde de Irmã Tarsilla, que já estava doente e, em abril de 1928, não resistindo mais, foi submetida à consulta médica. Constatou–se sério problema patológico no estômago. Foi encaminhada para São João da Boa Vista, onde já estivera. Tudo foi feito pela Irmã e sempre com poucas esperanças. Esteve também em Águas da Prata para possíveis tentativas de melhorar a saúde. Não tendo conseguido o êxito esperado, foi acompanhada por Ir. Marina Danese para Casa Branca, onde novamente as radiografias confirmaram o problema estomacal. Madre Melânia não queria acreditar na impossibilidade de cura, mas Ir. Tarsilla pressentia o seu fim. Ela “esquecida de si e toda coração para os outros, não permitia a nenhuma coirmã vê-la nas horas noturnas, assegurando-lhes que, se necessitasse, ela mesma as chamaria. Quando, as via reunidas em torno de seu leito de dor, recomendava-lhes ardentemente a união afetuosa e reverente aos legítimos superiores, união da qual ela, ao longo do curso de sua vida religiosa lhes havia dado luminosíssimo exemplo. ” Numa de suas últimas conversas com Madre Melânia disse: “O que mais me consola e alivia nestes últimos dias de minha existência, é o testemunho que posso dar a mim mesma, de ter sempre amado e venerado os meus legítimos superiores, sem o que, é inútil que uma súdita confie e espere as bênçãos divinas”. Madre Melânia sentia-se confortada, mesmo em meio a tanta dor em perder a dedicada Irmã, uma filha fiel, uma reta superiora, vendo-a tão conformada ao querer divino.
Enquanto o mal progredia, consumindo sua saúde, no ânimo dela ia crescendo o desejo de encontrar-se com quem muito amava. Após seis longos meses, transcorridos no contínuo exercício de uma resignação digna de inveja, de um merecido elogio, a Irmã decaía sempre mais. Em 16 de outubro Ir. Tarsilla entrava em agonia. Após 3h de intensas dores e agonia, tendo recebido os últimos sacramentos, partiu para receber de Jesus o imarcescível prêmio de seu voluntário e generoso holocausto. Foi assistida por Madre Melânia e as coirmãs. Com todo cuidado e respeito o seu corpo foi colocado em meio a uma profusão de lírios brancos.
Às 8h do dia seguinte foi celebrada a Santa Missa de corpo presente e às 16h, foi o sepultamento solene. Mais que um funeral foi o triunfo de uma santa e heroína. A Administração da Santa Casa de São João da Boa Vista, a do Asilo e a do “O Círculo Italiano de Campinas” as Irmãs Zeladoras, as Mães Cristãs e Filhas de Maria. Ofereceram-lhe linda coroa de flores. Acompanharam o cortejo fúnebre as Irmãs das Comunidades vizinhas, as Associações Religiosas da localidade e uma multidão de povo. O choro tomou conta dos presentes.
Apenas transcorrido o primeiro ano de sua morte, a administração da Santa Casa construiu no túmulo, um monumento para imortalizar a memória de Irmã Tarsilla, que não cessa de viver no coração de muitos que ela havia edificado com suas virtudes, que refulgiram ainda depois do seu falecimento.
“Cara Ir. Tarsilla, da Pátria bem-aventurada onde gozas a visão Beatífica do Deus humanado, volve com frequência o olhar [...] aos venerados superiores que te amaram qual filha e que por ti foram tão amados na terra; às coirmãs que te recordam com afeto e sinceramente choram a tua partida, por todos, uma oração a Jesus. Aos venerados superiores suplica saúde, luzes, auxílios, conforto; às coirmãs, especialmente as missionárias brasileiras, virtude sólida, generosa, reta imolação, santa perseverança!”
No dia seguinte aos funerais de Irmã Tarsilla,“ Madre Melânia, finalmente cedendo às reiteradas solicitações do benemérito Doutor Giovanni Costa aceitou e abriu em São João, o “SANATÓRIO IRMÃ TARSILLA ARDITO”, para perpetuar a memória da falecida Missionária Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, que, em toda São João, tem conceito de santidade.
Havia tempo em que o médico propunha a Madre Provincial, a aceitação da Obra, que um sentimento de sincera e profunda piedade, fazia instalar numa elegante casinha, situada a poucos passos do Asilo dos Velhos. Madre Melânia que não se sentia propensa ao novo gênero de missão que se restringia à assistência de uma infeliz demente, necessitada de escrupulosa vigilância, de mão forte, associada a um coração nobremente viril, caridoso e afetuoso, havia protelado o mais possível a desejada resposta. De fato, onde encontrar o pessoal idôneo, na penúria de recursos humanos? Colocou obstáculos à aceitação, expondo inclusive a necessidade de uma Capelinha com o Santíssimo Sacramento, onde as Irmãs pudessem aí cumprir os exercícios de piedade requeridos pela Santa Regra, obter a força necessária ao desempenho da delicada missão e receber diariamente a Santa Comunhão.
Tudo foi preparado pelos parentes da doente que, querendo confiá-la a todo custo aos cuidados de nossas Irmãs, recorreram rapidamente à autoridade eclesiástica diocesana, a qual não tardou em atender a respeito da capela.
É bom notar aqui que o motivo que induziu a Madre Melânia a condescender às instâncias do Dr. Giovanni Costa, foi a esperança de ganhar, na cômoda casinha transformada em Sanatório, uma futura Casa de saúde, onde a Congregação pudesse abrigar as filhas inabilitadas pela idade avançada ou por deficiência de saúde, quase sempre enfraquecidas ou depauperadas pelos sacrifícios consumados no campo de missão.
A senhora demente foi assistida pelas Irmãs desde 1928. O pai da doente prometera doar a casa para a Congregação com a morte da doente. Porém, não providenciou nenhuma documentação e desapareceu após o falecimento da mesma. Em vão foi a esperança de receber a casa!