IR. ILDA DI VINCENZO
28/07/1907 + 05/10/1996Biografia
Ir. Hilda iniciou suas atividades em 1931, na Escola de Trabalhos, em Peruggia. Jovem, no mesmo ano de sua primeira profissão, partiu para o Brasil, viajando por via marítima, e estabelecendo aqui seu novo campo de apostolado. Sua primeira missão foi a Santa Casa de Bauru,SP, atuando no setor de alimentação e na enfermagem. No mesmo ano, 1931, foi transferida para a Santa Casa de Jaú,SP, dedicando-se aos serviços da Capela e Farmácia; e, nessa missão deixou rastro profundo de amor a Jesus e de dedicação ao próximo, tanto que, ao sair de lá, o povo continuou aguardado sua volta, mandando mensagens e convites para que ela preenchesse o vazio que havia deixado; em 1944, foi para o Colégio São José, em Bauru,SP, auxiliando no internato; em 1945, retornou para Jaú, cuidando da Capela e aproveitando esses momentos para conversar com Jesus a quem dedicava toda a energia de sua vida. Além disso, era responsável da Farmácia, Banco de Sangue e Laboratório Hipodérmico. Em 1988, foi transferida para a Creche-Escola Madre Clélia, em Bauru, dando assistência às crianças e, nas horas de lazer, dedicava-se à pintura.
Sentindo-se cansada, passou a integrar a comunidade da Betânia, e, como Apóstola Adoradora, manteve viva a lâmpada da Fidelidade e do Amor, até à morte, deixando o exemplo de um coração jovem, entusiasta e fervoroso.
Ir. Hilda estava relativamente bem, quando, um dia, ao levantar, caiu e teve duas fraturas. Submeteu-se à cirurgia e já se encontrava em casa, feliz pela rápida recuperação, quando, inesperadamente, foi surpreendida pela irmã morte que a levou para gozar, eternamente, da paz do Senhor, aos 89 anos de idade e 66 de vida religiosa.
Transcrevemos algumas das anotações de sua vida: Dos 15 aos 22 anos, nutria o ideal de entrar num Claustro, mas sentiu um forte convite do Coração de Jesus e aceitou a troca que lhe custou muito, mas, em meio às lágrimas disse: “Deixo a minha vontade para fazer a de Jesus”. Ainda, em seus apontamentos, encontramos a expressão de seu ardor missionário e sua confiança na Providência Divina. São suas as palavras: “Como se vê, apesar de não ter estudos, Jesus confiou-me trabalhos e responsabilidades; e, com o auxílio de sua graça, como sua esposa, nesses 50 anos, dei conta, magnificamente, de tudo o que Ele me confiou; um maravilhoso apostolado: Ação Católica, Apostolado da Oração, Jovens Marianos, Filhas de Maria, Legião de Maria, Cruzada Eucarística, Pastoral Catequética, Presidiários e Trabalhos Manuais. Por tanta bondade, seja dada glória ao Sagrado Coração de Jesus! ”
Ir. Hilda foi uma pessoa de oração e de grande união com Deus. Em todos os lugares e setores, prestou serviços com amor, zelo e dedicação, deixando a lembrança de sua edificante presença de Apóstola.
Depoimentos
Ir Celeste Yamamoto - Na época em que morava na Santa Casa de Marília, via Ir. Hilda, todos os sábados, participando da Santa Missa das 14 horas. Vinha da Betânia, sob um sol ardente. Um dia perguntei: - “Por que a senhora vem à esta Missa, se já participou de outra, pela manhã? Esse sol não lhe faz bem...” Ela me disse: “Irmã, quanto mais participo da Santa Missa, podendo, fico mais unida ao sacrifício do Calvário e posso receber mais uma vez a Jesus, que é o alimento de minha alma; o sol arde, mas é um sacrifício muito pequeno em vista do que Jesus sofreu por mim”. Achei linda a sua resposta e tornei a perguntar-lhe: -“Quer que alguém a leve de volta após a Missa? ” Ao que ela retornou: “Não, porque assim o sacrifício ficaria pela metade”. Pouco tempo depois, fui morar na Betânia e, como Superiora, eu a observava. Um dia, descendo a escada, notei que ela estava subindo com dificuldade e lhe perguntei: “Por que não sobe pelo elevador, parece estar tão cansada?!” Ela respondeu: “Sabe, Superiora, não é que estou com dificuldade de subir, a dificuldade é estar subindo o degrau e não conseguir dizer uma jaculatória inteira, por ele ser muito baixinho”. “Parabéns, Ir. Hilda! e para quem são essas jaculatórias?” Não guardei bem a resposta. Continuei a observá-la melhor e percebia que, apesar de todos os seus esforços tinha um gênio forte, não admitia que alguém a corrigisse. Passava seu tempo na Capela, no refeitório ou no quarto, poucas vezes era vista conversando com as Irmãs, porque sempre saíam discussões; nestes casos, porém, ela se arrependia e pedia perdão.
Numa manhã, uma religiosa chegou-se a mim, na Capela, e disse: “Ir. Celeste, Ir. Hilda é sempre a primeira a chegar, nunca atrasa, hoje ela ainda não chegou...”. Fui ao seu quarto; vi a janela fechada, bati, pois, a porta estava trancada e chamei. Ela respondeu: -“Estou aqui, caída no chão e não consigo abrir a porta.” Chamei duas enfermeiras e com a chave de reserva, conseguimos abrir. Pobre Irmã!... Estava no chão frio, molhada, gemendo e, pela posição, notamos que devia estar com fraturas. Levamo-la, imediatamente, à Santa Casa, confirmando estar com fratura no fêmur e no úmero, necessitando de tração esquelética, seguida de cirurgia. Quando íamos visitá-la dizia: “A gente não obedece; a Superiora fala para não levantar antes da hora, não fechar a porta dos quartos. Eu pensava em levantar para fazer adoração, queria rezar, e vejam o trabalho que estou dando...”.
Noutra ocasião disse: “Sabe que um dia, conversando com Jesus, disse-lhe desejar que minha alma fosse um lindo altar para ele celebrar e ficar no ostensório e assim poder adorá-lo a cada instante. Jesus me disse: - Você já tem esse altar no seu coração, continue; depois disse-lhe, gostaria de ter vasos de flores para adornar você dia e noite; Ele me respondeu: Você já é a flor que adorna o altar...”. Falou-me outras coisas, que não me lembro bem. Só sei que Ir. Hilda trabalhou muito sobre si mesma. Conservava seu quarto sempre limpo, em ordem e com o mínimo necessário.
Ir. Eduarda Pinna - Morei com Ir. Hilda na Creche-Escola Madre Clélia, em Bauru. Era uma verdadeira missionária; fazia sua missão com os presos e na catequese, com grande amor apostólico; todos os dias participava da Santa Missa, não só na Creche, como também na Paróquia São Sebastião. Silenciosa, guardava o recolhimento, mesmo durante o trabalho de pintura de imagens. Quando já não enxergava bem, pedia ajuda”.
Ir Luzia Aguiar - “Conheci Ir. Hilda em Jaú. Era responsável pela Capela do Hospital. Cuidava de tudo com muito esmero. Dizia que tudo o que era de Jesus devia ser feito com muito amor. Conseguiu construir a gruta de Nossa Senhora de Lourdes, com a ajuda dos paroquianos, e também um grande centro catequético. Esteve também em Lins, visitava as cadeias e as famílias dos doentes, levando-lhes palavras de conforto. Estava sempre com a Palavra de Deus na boca e no coração. Rezava e ensinava a rezar aos grandes, aos pequenos, aos ricos e aos pobres. Pessoa de grande espírito de sacrifício e muito querida por todos”.
Ir. Iolanda Quilice - Ir. Hilda foi uma verdadeira missionária. Durante 30 anos, prestou serviços na Farmácia e na Capela da Santa Casa de Jaú. Sua missão foi sempre voltada para o próximo: Filhas de Maria, Marianos, Coroinhas, Cruzada Eucarística; aos sábados e domingos, passava o dia todo na catequese; na Farmácia, ela mesma gostava de preparar os medicamentos e fazia-o com muito carinho; na comunidade, era exemplo para todas. Ao ser enviada para a Betânia, aceitou com muita humildade e submissão a vontade de Deus, deixando tudo e todos sem reclamar.
Ir. Brígida Campos Cunha - De passagem por Jaú, tive a oportunidade de conhecer Ir. Hilda, a qual me edificou profundamente pelo seu zelo apostólico, piedade e dedicação esmerada ao trabalho; pela sua caridade com os funcionários, sempre evangelizando a todos. Além da tarefa no Hospital, dedicava grande parte de sua vida ao apostolado dos encarcerados, evangelizando, rezando com eles, levando-lhes revistas, bons livros. Falava-lhes do Sagrado Coração de Jesus, da primeira sexta-feira, levava o sacerdote para assisti-los e celebrar a Eucaristia. Zelava pelas vocações religiosas. O pouco tempo em que tive contato com ela, serviu-me para admirar sua humildade, piedade, o carinho, amor e dedicação, como testemunha de Apóstola do Sagrado Coração de Jesus.