Ir. Charitas Bottoni
03/003/1877 – † 18/11/1950Biografia
Depoimento
Conta uma Religiosa: -“Não morei, mas trabalhei onde ela morava. Fervorosa, silenciosa, paciente, respeitosa, nunca levantava a voz para qualquer pessoa. Muito séria e humilde. Era responsável pelo Laboratório da Santa Casa de São João da Boa Vista,SP; recebia médicos e doentes, pobres e carentes, tratando a todos com a mesma cortesia e caridade. Rezava muito. Era sempre a última a deixar a Capela, após os atos comunitários. Demonstrava seu amor ao Instituto pelo testemunho de vida religiosa.”
Escreve Emílio Lansac Toha - “Soterrada, durante vários dias, enquanto sob as ruínas de sua tumba improvisada, chorava o céu da Itália, não quis o meigo Semeador que tão preciosa vida se extinguisse.
Ela renunciou às atrações do mundo; desapegou-se dos laços da vaidade, humilhou-se, para levar aos corações o eflúvio de uma canção fraterna. Viveu para a humanidade, viveu para a pobreza; para a grande família de necessitados que solução, comovida, a grande e irreparável ausência. Viveu para afirmar a presença de Deus em suas atitudes coroadas de santidade. Chamavam-na de Irmã Desprendimento, Irmã Dedicação, fonte perene de consolação dos angustiados, seu coração teve recantos iluminados, dia e noite, para a compaixão; hospedando a mágoa dos aflitos, acasalando sonhos desconfiados, pensando cada ferida com o arminho de uma rosa desfolhada. Não só para tristeza dos corpos doentes e deformados, mas para a dolorosa inquietação das almas enfermas, desses outros pobres corações mutilados que apenas se movem como coisas inúteis sobre carros sem rodas. Em cada transe amargo deixou, sempre, crepitando, a candeia do perdão construtivo, protegida contra o inverno do egoísmo, que cobre de neves prematuras as ternas aspirações. Quantas singelas ternuras teceram estas mãos postas e tranqüilas sobre o peito. Quantas palavras meigas, destes lábios mudos, adoçaram as horas silenciosas da amargura alheia, num mundo degenerado, em que se aninham os pesares; onde luta, debalde, para entrar discreta, a luz de uma nesga felicidade; a dor dos hospitais, as penas da orfandade! Vinte e sete anos serviu ao sofrimento, predestinada para o sacrifício; acariciando em cada pensamento, um generoso propósito de salvação e harmonia. Como um pássaro, humilde e pequenino, fechou os olhos para sempre. Descansa em paz, querida Irmã! Honraste teu nome na vida: Caridade!"