IR. ROSA GIULIANI
26/01/1910 + 02/08/2003Biografia
Ir. Rosa, ou Ir. Rosinha como era chamada, deixou sua vida marcada, mais pelos exemplos que pelos escritos, ou seja, escreveu sua vida, com a própria vida, eternizando cada momento vivido com intensidade. Nos últimos tempos, recordava com saudades o amor que os pais lhe dedicaram na infância. Dizia: “Lembro-me de quando ia à escola... ao voltar, meu pai ia ao meu encontro e enchia-me de carícias. Como era bom, quanto carinho tinha por mim!...” Gesto esse que ela tentou reproduzir em sua vida, com todas as pessoas que encontrava ou convivia. Era meiga e distribuía delicadezas em servir, especialmente às Irmãs enfermas, impossibilitadas de participar dos atos comunitários. Prova disso é o que diz o poema que sua coirmã, Ir. Esmeralda, já falecida, quando enferma, lhe dedicou, para agradecê-la pela delicadeza transformada em gestos de alívio, na dor ou até na cura:
“ EU TE CONHECI, IRMÃ ROSA GIULIANI”
“Te conheci no Hospital Matarazzo,
Dedicada enfermeira noturna!
Eu, noviça do Ano Canônico,
O curso de Auxiliar de Enfermagem
Lá pelo ano 1958, fazia.
Aprendi muito contigo
Tuas virtudes chamavam-me atenção,
Tua humildade, obediência e caridade...
Procuravas atender a todos e a todas, sem distinção.
Vieste da Itália, ainda jovem, no ano de 1938.
Em São Paulo, no Hospital Matarazzo,
batalhaste 40 anos como enfermeira noturna...
Te doaste também no Asilo
De São João da Boa Vista,
Lá deixaste muita saudade,
Porque a todos com carinho atendias.
Aos doentes e velhinhos, física e mental
Teu espírito de amor, oração e caridade, era sem medida.
És uma linda criatura, nossa bondosa Rosinha!
Tuas virtudes te tornam mais linda ainda.
Até hoje, os velhinhos do Asilo perguntam,
Quando Ir. Rosinha vai voltar?
Em tudo, queres ajudar e nem um ato de amor queres perder...
Tudo o que fizeste e fazes por mim,
Só o Coração de Jesus vai pagar.
És filha querida da Virgem Maria
Madre Clélia te ama com alegria !
Nós te amamos, Rosinha, eu principalmente,
Ir. Esmeralda, te agradeço de coração!
o que não podia fazer, fazias por mim.
Os cantos italianos foi com a senhora que aprendi.”
Como pudemos perceber, Ir.Rosinha viveu aquele sonho de Madre Clélia: “A caridade seja a fina flor que perfuma cada gesto de sua vida”... Aliás, muitas testemunhas afirmam que Ir. Rosa percorreu o mesmo caminho de Santa Terezinha do Menino Jesus. Amava muito a Jesus e queria que ele se tornasse conhecido e amado por todos, e isto era demonstrado em sua vida.
Sua vida missionária iniciou em Roma, em 1933, como Auxiliar da Portaria. De
Na noite de 5ª feira Santa, 17/04/2003 após o traslado do SS.mo Sacramento para a capela improvisada no 1º andar da Betânia, as Irmãs permaneceram em adoração até a meia noite. No dia seguinte a Ir. Rosa disse que acordou e pensou: “A Superiora ficou sozinha a noite inteira, vou lá”. Subiu as escadas e quando chegou na capela ao sentar-se perdeu o equilíbrio; não conseguia sentar-se e percebeu a perna e o braço esquerdo, sem firmeza. Nisso eu entrei e uma das irmãs, me ajudou a colocá-la na cadeira de rodas e levá-la para o seu quarto até que se comunicasse o médico o qual mandou levá-la imediatamente para a Santa Casa. Ficou internada três dias e voltou para continuar o tratamento na Betânia.
Apresentou uma melhora progressiva até o dia 17 de julho, quando teve o 2º problema cerebral paralisando o lado direito com perda da fala, mas manteve a consciência até dois dias antes de seu falecimento, ocorrido aos 00h10 minutos do dia 02/08/2003.
“Quem conseguia falar da Ir. Rosinha sem conter as lágrimas? Mesmo assim durante a Santa Missa de corpo presente, quando o celebrante disse que pouco sabia sobre ela, senti uma força tão grande e um forte impulso para ir ao altar e falar algo porque ela merecia. (Foi-me impressionante a certeza de que o Espírito Santo falaria em meu lugar e eu não choraria). De fato fui e falei espontaneamente mais ou menos o seguinte:
“O Padre disse que pouco sabia sobre a Ir. Rosa, com razão, pois não foi informado. Ela, com 93 anos de idade, fez a sua profissão religiosa há 69 anos e veio para o Brasil como missionária. No Hospital Matarazzo, onde trabalhou 40 anos à noite, na maternidade e nos berçários, era chamada: “O anjo da noite”. No Asilo de S. João da Boa Vista, até os membros da Administração diziam: “A nossa santa Ir. Rosinha”, tanto era o carinho que ela dedicava aos velhinhos.
Sempre dizemos que quando morre alguém, “fica santo” porque se fala só das virtudes daquela pessoa e se esquece os defeitos, mas da Ir. Rosa, todas as Irmãs da comunidade aqui presentes, são testemunhas de que realmente não se encontra defeitos em sua pessoa. Ela foi humilde, disponível, silenciosa e sobretudo caridosa. Estava sempre atenta às necessidades das Irmãs, especialmente das que tinham dificuldades de se locomover. Quando percebia a falta de alguma Irmã, no refeitório, vinha comunicar-me que ia no quarto dela, ver se precisava alguma coisa.
Enquanto a Ir. Sylvia era expansiva e explodia a vida por suas expressões, a Ir. Rosa agia no silêncio e humildade. (Dons diferentes dados por Deus, para cada uma).
As Irmãs, não fazem “espalhafatos” como em alguns velórios, mas Deus sabe a dor que sentimos pela separação de uma Irmã, pois somos família e, é um membro de nossa família que nos deixa.
Queremos pedir à Ir. Rosa que interceda junto ao Coração de Jesus por nós e que Ele nos dê as graças que precisamos para imitarmos as suas virtudes. ”
Ir. Claudimira Merino Miranda
Testemunhos das Irmãs, colhidos na comunidade, no dia 06/08/2003.
Após o recreio da noite, ela ia dar-me a mão dizendo: “Buona notte superiora”. Caso eu saísse antes da hora, ela ia procurar-me onde estivesse para dar a “buona notte, superiora”.
...Assumiu com tanta responsabilidade o cuidado da Ir. Matilde Gabardo, que estando no leito, paralisada, disse-me: “Diga para a Ir. Matilde que se precisar de mim, estou aqui.” (Ela havia mudado de quarto).
...Tudo o que as funcionárias faziam, ela agradecia e pedia desculpas pelo trabalho que estava causando-lhes. Quantas disseram: “Nunca vi uma Ir. como a Ir. Rosinha!...”.
...Cada vez que a Ir. Verônica Ceschin lhe levava as refeições, ela, sem apetite dizia: “Não sinto gosto pela comida, mas Deus mandou, eu como”.
Palavras textuais das Irmãs:
...Sempre vi na Ir. Rosa a simplicidade e o sorriso..
...Caridosa, sempre pronta a servir...
...Não ofendia ninguém, era pura, tinha ar de santidade...
...Foi uma santa em vida...
...Sempre pronta para rezar o terço com as Irmãs acamadas...
...pela manhã no Memorial, mesmo quando ninguém ia, ela ia sozinha rezar o terço...
...Diariamente logo após o café, dirigia-se ao quarto para rezar com a Ir. Matilde, a ladainha do preciosíssimo Sangue de Cristo e ler um trecho da Imitação de Cristo ou algum outro documento...
Insisti: “Mas a Ir. Rosa não tinha mesmo nenhum defeito?”
Uma Irmã respondeu: “Tinha sim, ela era teimosinha” e logo outra completou: “...mas porque era teimosinha? para fazer caridade porque estando com uma hernia inguinal, até depois de operada, não podia fazer esfoços e ia empurrar a cadeira de rodas de uma Irmã, carregar a bandeja de pratos de outras...”.
...Ninguém ouviu a Ir. Rosa criticar. Sempre encontrava uma desculpa para defender a pessoa...
...Uma Irmã gostou do que um dos sacerdotes comentou na homilia, quando disse que o Coração de Jesus veio na 1ª Sexta-feira buscar uma e o Coração de Maria veio no sábado buscar a outra, assim os dois corações missionários unidos a Jesus e a Maria.
Se, se entrevistar todas as Irmãs que conviveram com ela, quanta coisa linda terão a dizer e testemunhar!...
Entrevista com algumas funcionárias: (interrogadas uma sem saber o que a outra disse) “Se alguém lhe perguntasse sobre a Ir. Rosa, o que você diria?”
Suzana Maria Santos - “A Ir. Rosa foi sempre uma pessoa boa, paciente, transmitia a espiritualidade que ela vivia. Era humilde, generosa, nunca criticava ninguém, tinha sempre a presença de Deus em tudo. Sabia agradecer tudo o que lhe faziam.
Era serena, vivia realmente a vocação que abraçara, punha em prática tudo o que aprendera. Vivia pelos pobres e doentes, servia de acompanhante quando uma Irmã era internada. Sua morte causou-me tristeza, mas ao mesmo tempo fiquei alegre, pois, sei que ela foi com Deus e foi em paz.Para quem a viu andando, trabalhando, fazendo crochê, não era bom vê-la na cama sofrendo...”
Maria Valderese Pereira - “A Ir. Rosa foi uma pessoa educada, mesmo na doença era paciente, generosa, agradecia tudo que lhe era feito. Transmitia paz, confiança, gostava de ajudar os necessitados. Nunca respondia mal a ninguém, tudo sabia desculpar. Foi uma Irmã que vivia aquilo que prometeu a Deus. Foi tão generosa que deixou a própria Pátria para servir os irmãos desconhecidos. Sua morte foi chocante, mas o que consola é que ela voltou à casa do Pai. Quando se gosta de uma pessoa, é triste vê-la sofrer, então sua morte foi uma alegria, porém fica a saudades de um querido que partiu. Que ela descanse em paz.”