IR. GAUDENZIA BORTOLON
16/09/1892 + 10/10/1977Biografia
Com seu tamanquinho, subiu os degraus das escadarias do madeiro Sagrado da Cruz de cada dia e alcançou o topo do céu, o seu PARADISO. Maria Giovanna, muito jovem ainda, enfrentou o sofrimento causado pela primeira Grande Guerra Mundial 1914 a 1917, e como tantas outras famílias, experimentaram de perto as consequências desastrosas da mesma. Nesse período perdeu os pais que tanto amava. Podemos imaginar a dor desta jovem, nestes momentos de solidão. Privada dos pais terrenos confia sua vida a Deus Pai, como bom Pastor e acreditava na luz que ilumina as trevas. Certamente, terá dito, a vida deve continuar. Que farei? Que quererá o Senhor de mim? na oração silenciosa ouviu o convite de Jesus para segui-lo. Com muita alegria disse: “Sim, quero me consagrar ao Senhor e sem receio começou a concretizar seu ideal”. O Pároco de Grigno atesta: “Maria Giovanna foi sempre uma jovem de conduta exemplar. E fazendo uma descrição da cidade de Grigno e de seu povo, podemos concluir que, como nos tempos de Jesus, o joio cresce junto com o trigo, mas mesmo no meio de tanta perversidade e dificuldade, o Coração de Jesus cuidou e protegeu Maria Giovanna porque a queria para si, ajudou-a no discernimento vocacional e mostrou-lhe a Congregação onde a queria como esposa”.
Foi o que aconteceu. Maria Giovanna ingressou no Instituto das Apóstolas em Solero e aí iniciou sua caminhada, interiorizando-a com as palavras do salmista “Uma só coisa peço ao Senhor e isto eu desejo: habitar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida”. Sl 26,4. Na tomada de Hábito recebeu o nome de Irmã Gaudência, na alegria de servir Cristo que se fez pobre, casto e obediente. Chegou o momento da Profissão. Ir. Gaudência, única herdeira da família, fez a oferta de sua herança, para o Instituto, o qual, na época, passava por dificuldades financeiras e assim pode cooperar para o renascimento do seu próprio Instituto, sentindo-se feliz em doar boa parte de sua vida àquele que se doou, antecipadamente, para ela. Mais tarde dizia a uma Irmã: Sou órfã, perdi meus pais na guerra. Fui a única herdeira de seus bens materiais, mas só busquei os bens do céu. Ao recordar este fato, conclui a Irmã: Tenho certeza que Jesus sempre protegeu Ir. Gaudência. Considero um privilégio a graça de ter convivido com esta “pequena grande alma”. Ir. Gaudência vivia a pobreza ao extremo, assumindo Cristo como tesouro e pérola preciosa; imitava Cristo casto, como único amor e beleza, único bem e verdade, pelo qual vale a pena arriscar a vida; seguia Cristo obediente, com uma obediência livre e responsável, buscando unicamente sua Santíssima vontade; como filha de Madre Clélia entrou na Escola do Coração de Jesus, para ali permanecer e descobrir os seus segredos divinos, vivenciá-los e anunciá-los até os confins do mundo; Maria Santíssima, a mãe carinhosa, foi seu modelo de consagração e guia segura. Em 1925, veio para o Brasil e nunca mais voltou para rever sua Pátria. Deu seu SIM para sempre. E a quem lhe perguntou o que sentia ao vir para o Brasil, simplesmente, respondeu: As missionárias precisam obedecer. A maior parte de sua vida e missão passou no Hospital Humberto I, consumida no silêncio, na oração e na doação aos mais necessitados. Na sua atividade de atender às Irmãs, transbordava sua doação heroica e todas as Irmãs que conviveram, ou passaram por ela, são unânimes em testemunhar que suas virtudes foram de alto grau de santidade, na humildade, na simplicidade e, sobretudo, “no servir”. Para todas tinha palavras de ânimo, fortaleza, esperança, fé e, acima de tudo, caridade. Foi sempre reservada, silenciosa, porém, sempre atenta em colocar seu “ser Apóstola” a serviço, até nas mínimas coisas. Irmã Gaudência foi uma criatura de extrema caridade. Quando chegava Irmã de fora, era pronta para servir. Procurava saber os seus gostos e dizia: “Aqui é diferente, mas vai se acostumar”. Para a Irmã Evangelina repetia: “Seja boa para todos que no céu não terá mais sofrimento, atende a todos que procuram você, que um dia Deus a recompensará”. Irmã Gaudência tinha grande espírito de oração “profundo. Só tinha uma meta: O PARAÍSO, tudo o mais perece e para a vida consagrada o importante é olhar para o alto.
O Sacrário era o lugar de suas mais caras delícias, nos momentos livres, ali era encontrada; participava das Santas Missas tanto quanto podia, nem a chuva a intimidava e dizia: “A missa tem valor infinito, não posso deixar passar esta graça que o Senhor me oferece”. Seguia, fielmente, o ensinamento de Madre Clélia que recomendava assistir a S. Missa diariamente, como se estivesse assistindo ao Sacrifício do Calvário. Escondida no seu trabalho humilde se interessava pelo trabalho das Irmãs, fatos e acontecimentos, problemas, sofrimentos, cirurgias difíceis, aproveitando-se de tudo para ser mediadora através das orações e pedia que dissessem aos doentes que estava unida às suas dores. O verdadeiro missionário não vê obstáculos: doa-se e ama. Já bastante idosa, perguntaram-lhe sobre uma possível transferência para a Betânia, ao que ela respondeu: “Vamos sim, já que o Instituto nos oferece um lugar para prepararmos o Grande encontro com o Senhor, certamente, vai ser bom”; e foi para Marília. Sofria de um câncer no fígado com outras complicações, mas nenhuma queixa, sofria em silêncio. Um dia a Irmã que a assistia, notou nela algo estranho. Chamou o médico, foi internada imediatamente na Santa Casa, recebeu os cuidados físicos e espirituais, e no dia seguinte, ela deixou esta terra. Contava 85 anos de idade e 53 de vida religiosa. Todos beijaram aquelas mãos abençoadas que souberam doar-se profundamente, de maneira escondida, sem nunca se irritar, sem nunca aparecer, sem nada pretender, no incansável “SERVIR”.
Obs. – Outras informações poderão ser encontradas no perfil biográfico: “Gestos que perduram” da Coleção Coração Multiplicado.